sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Careca perdeu para o Topete

Disso ninguém jamais duvidou: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o principal eleitor das eleições presidenciais de 3 de Outubro de 2010. Outra certeza era de que o candidato à sucessão de Lula seria José Dirceu.  O escolhido não foi José Dirceu. Do mesmo modo que sabíamos que seria ele, sabemos por que não foi.

Sem obstáculos e sem nenhum pedágio - uma das principais características dos governos administrados por tucanos - abriu-se uma enorme estrada a caminho de Brasília para o candidato José Serra. A via expressa era tão generosa quanto à operação descida e subida do Sistema Anchieta-Imigrantes, nos feriados prolongados. Oito pistas a favor versus apenas duas contrárias.

As asas tucanas bateram freneticamente. Mas com o bico grande e oco, tão fraco que o tamanho é desproporcional a qualidade, os tucanos não aproveitaram o momento e caminham agora para a extinção. Como a ararinha azul.

Na Wikipédia, a extinção do tucano está relacionada ao tráfico de aves. Isto tem como conseqüência a diminuição de seus semelhantes, o risco da variabilidade genética e, por fim, o seu desaparecimento.

Na política brasileira, José Serra é o maior exemplo de extinção. Nunca mais se ouvirá falar dele. Feliz ou infelizmente. A sua arrogância e a sua prepotência, o temperamento despótico e opressor, a irritabilidade, com a perda de paciência a qualquer senão e a sua postura de um homem de caráter provisório, o levam a uma das maiores derrotas já registradas nas eleições presidenciais.

O seu topete, embora careca, já o derrotou. Como ave (tucano que é) suas penas alongadas na cabeça vedaram seus olhos e  nunca o deixaram enxergar nada. Mais pavão do que tucano, pretensioso e atrevido só destruiu alianças. Nunca foi aceito pelos mineiros liderados por Aécio Neves. A ousadia de Serra rompeu relações com o PTB nacional de Roberto Jeferson, embora em território paulista a aliança tucana de Geraldo Alckimin e do petebista Campos Machado jamais tenha sido abalada.

Foi criticado publicamente por Jeferson, no Twitter, pelo seu posicionamento contra o candidato petebista ao governo de Alagoas, Fernando Collor de Melo. Além de outras posições que tomou sem moral e sem honestidade contra o PTB, seu aliado nacional. Serra aceitou o apoio do partido, ocupou o horário gratuido dos trabalhistas, mas não queria chegar nem perto de suas principais lideranças.

Mas Serra fez mais. Escondeu de sua campanha, o tempo todo, um dos maiores líderes dos tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Se FHC ajudaria ou não na disputa presidencial, eis algo difícil de se prever. Porém, se o candidato não recorreu a ele a dúvida persistirá para sempre. O fato é que, também, essa decisão cabe apenas ao candidato, ao seu partido e talvez ao marqueteiro responsável pelas peças publicitárias. No ninho do PSDB, quem manda é o tucano.

Então por que Serra foi criticado por ter colocado fora desse ninho o tucano FHC? Algo existe. De tal modo que a censura a posição de Serra foi feita por tucanos de altas e belas plumagens. Até publicamente. As reprovações a Serra partiram até mesmo de algumas cabeças coroadas do reduto tucano como um líder do partido, o deputado federal José Anibal, candidato à reeleição e coordenador da campanha de Geraldo Alckmin.

A verdade é que FHC virou tiririca na campanha de Serra, mas não o candidato do PR, Francisco Everardo Oliveira Silva (o humorista Tiririca), mas um incômodo, um estorvo. FHC entra na história como um grave pecado a ser varrido para baixo do tapete. Algo parecido com “aquilo que não queremos que ninguém saiba que iremos fazer ou que estamos próximos de fazê-lo”.

Serra está na UTI política. Ainda tenta sobreviver, reanimado como uma pessoa desfalecida, com as denúncias de irregulariades publicadas pela imprensa tradicional e engajada em sua candidatura, mas - como tucano que é - tem uma disgestão curta que acaba não refletindo nos índices eleitorais que deseja.

A partir de hoje, Serra já deve estar conformado com a derrota. Só falta desligar os tubos que lhe alimentam com um restinho de gás. No começo da campanha perdeu para o seu topete. No decorrer da disputa foi perdendo, dia a dia, para o grande eleitor nacional, Luiz Inácio Lula da Silva. E no dia 3 de Outubro de 2010, perderá nas urnas para Dilma Rousseff. 

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Vale do Silício da Califórnia é o Brás de São Paulo

A convivência com meus quatro netos me transporta diariamente para as ruas do Grande Brás, um dos primeiros bairros da cidade de São Paulo, que se estendia até o Belenzinho. A região era conhecida como paragem do Brás. Servia de parada para quem se dirigia da Freguesia da Sé à Freguesia da Penha. No princípio, o trajeto de menos de 15 quilômetros era chamado estrada da Penha. Hoje, compreende as deterioradas e decadentes Avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia.

A forte presença de imigrantes italianos caracterizou o Brás. Sua influência se fez sentir de maneira decisiva naquele bairro onde nasci, cresci e alicercei moral e sentimentalmente toda a minha vida. Hoje, quase 60 anos depois, quando vejo meus netos a dedilhar as teclas do computador e do iPhone para acessarem o Twitter, Orkut e Facebook ou jogos eletrônicos, lembro das minhas atividades lúdicas pelas ruas do Brás. Do pega-pega entre meninos e meninas - de pular corda, andar de bicicleta e patinete, bater bolinhas de gude em ruas de terra, empinar papagaios, jogar de pião e correr no carrinho de rolemã.

Ontem – ou anteontem – e hoje. No sofá com os quatro garotos assistindo Nickelodeon, Discovery Kids ou Cartoon Network e vendo a disputa entre eles para escolher o canal preferido, sinto saudades do futebol de rua, da bola de meia velha das nonas, da bola de capotão e das brigas provocadas pela decisão dos 22 juízes. Nunca havia unanimidade. Como dizia Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. No nosso caso, a falta dela, era porrada.

Nessa minha atual viagem, patrocinada pelos meus quatro guris cibernéticos, que me leva do passado ao futuro, me entrego a comparações e ilações que me confortam. Se eles não viram e não viveram, não sentirão a falta também. Os jogos eletrônicos instalados no home theater para eles é o futebol das ruas do Brás para mim. Se o Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, é fonte de entretenimento e inspiração para as novas gerações, o Brás é meu modelo, régua e compasso. Ninguém nasce no Brás impunemente.

Foi no Brás que teve origem o futebol brasileiro. Na Rua Monsenhor de Andrade, travessa da Avenida Rangel Pestana, na várzea do rio Tamanduateí. Ali, no início do século passado, morava um escocês e uma brasileira de origem inglesa, de cuja união nasceu Charles Willian Miller - uma criança que seria conhecida no mundo como o "pai do futebol brasileiro". Aos 9 anos, ele saiu do Brás e foi estudar na Inglaterra, onde aprendeu a jogar futebol. Quando voltou ao Brasil e para o mesmo bairro, difundiu o futebol e foi o responsável pela criação da Liga Paulista de Futebol, a primeira do país.

Mas nesse mundo globalizado a Califórnia é aqui. Meus netos terão, talvez, a mesma emoção que tenho ao falar do Brás, quando lembrarem, aos quase 60 anos, do Vale do Silício onde teve origem, no mundo que eles conheceram, empresas que influenciam o nosso dia a dia como a Apple, Google, Electronic Arts, Symantec, Advanced Micro Devices (AMD), eBay, Maxtor, Yahoo!, Hewlett-Packard (HP), Intel, Microsoft, entre muitas outras.

Essa minha inferência (reflexão intelectual pela qual passo de uma verdade para outra verdade, no meu cotidiano, com Felipe, Pedro, Marco e Guilherme), parece não ter fim. O que é maravilhoso. Além de provocar uma intensa necessidade de me atualizar, cria em mim uma obrigação de preservar-me para vê-los crescer mais e invejá-los quando eles me apresentarem suas lindas, esbeltas e interessantes namoradas.

Visitando sistematicamente com os meus quatro garotinhos, fonte das minhas maiores e melhores inspirações, o Clube Pinheiros, os grandes supermercados, os sofisticados shoppings, os belos teatros, os elegantes e modernos cinemarks e os inúmeros Mc Dolnald`s, instalados em São Paulo, em qualquer outra cidade do Brasil ou até mesmo no exterior, não esqueço do Brás. Saí do Brás, mas o Brás não saiu de mim.

Me recordo das suas belas e elegantes cantinas italianas (do Chico – do meu primo Orlando, Ballila, Machiarolli, Marinheiro e 1060). De seus enormes restaurantes de mesas simples e toalhas com as cores da bandeira da Itália (Tiradentes, Brazeiro, Santa Cruz e Garoto). Das suas lojas de departamentos (Eletroradiobras, Móveis Pascoal Bianco, Lojas Garbo, A Exposiçâo-Cliper e Casas Pirani, “a Gigante do Brás”). Dos cinemas (Glória, Universo, Piratininga, Oberdan. Bruni Brás, Roxy e Braspolitiama). Do teatro Colombo, no Largo da Concórdia. Dos armazéns de secos e molhados. Das leiterias. Da doceira Bauducco. E da adega do Brás, da família Chiappetta.

No Clube Pinheiros, um dos espaços mais nobre da cidade de São Paulo, alguns de meus netos até estudam lá. Quase todos praticam esportes. Às vezes, os quatro almoçam e jantam no clube e, sempre, brincam e se divertem com seus amigos nesse quarteirão emblemático de São Paulo. Ao entrar na Rua Tucumã, acesso ao estacionamento do Pinheiros, para ver meus netos com seus amigos, para buscá-los ou até mesmo para participar de alguma atividade social, lembro do Clube Independência e da Garagem dos Bondes, na Rua Rubino de Oliveira.

O Independência nasceu improvisado na Avenida Celso Garcia, num anexo das Casas Pirani, até construir sua sede própria na Rua Carlos Botelho, paralela da própria Celso Garcia, no coração do Brás. Lá aprendi a dançar, joguei bola e experimentei a primeira bebida alcoólica – tudo na companhia inseparável de meus irmãos e primos Luchetti, Citrini, Vicário, Faria, Galetto e Romano, além de meus amigos Tavollari, Carvalho, Damiani, Venturelli e Ferraciolli. O nosso time, o Passos Clube, era muito bom de dança, bebida e futebol. Até jogamos contra o Periquitos do Brás, time formado por ex-jogadores do velho Palestra Itália e do Palmeiras pós-guerra.

Hoje os meus quatro netos já falam muita coisa em inglês, bem instruídos pelas suas escolas, pela internet e por esse mundo globalizado. Alguns até pronunciam frase inteiras em alemão e se expressam em 140 caracteres no Twitter. E aí eu volto ao Brás, verbalizando sentimentos. Há quase 60 anos, o nosso dialeto, resultante da mistura da língua dos nossos imigrantes italianos com a fala do povo brasileiro, era “português macarrônico”. Mistura lingüística sempre lembrada no clássico “Samba Italiano”, de Adoniran Barbosa, relembrado em novela recente “Passione”, e um pouco antes pelo escritor Juó Bananere, autor do livro “La Divina Encrenca”.

Macarrão é massa, lembram os bons manuais de culinária e diz tudo sobre o Brás. Os italianos bons de garfo, que migraram para o Brasil e se fixaram no Brás, incrementaram no nosso cardápio todas as massas, risotos, polpetones, sorvetes e doces. Foi tanta novidade gastronômica que mudou o gosto da alimentação e a mesa dos brasileiros.

O meu maior orgulho é que meus quatro netos, Felipe, Pedro, Marco e Guilherme, além de todos torcerem para o Palmeiras, gostam mais de pizza do que Mc Donald`s. E a pizza, acreditem, nasceu no Brás. A pizza foi introduzida pelos imigrantes italianos no bairro do Brás, onde foi fundada a primeira cantina, em 1910, a Santa Genoveva, já extinta. Em 1924 surgiu a segunda cantina mais antiga, a Cantina Castelões, que existe até hoje e mantém em seu cardápio pizza com borda alta e massa grossa original, na Rua Jairo Góis, travessa da Avenida Rangel Pestana, com as paredes repletas de fotos de jogadores de futebol de várias épocas. Em seu primeiro endereço ainda era um bar e funcionou na Rua São Bento, pedaço que simbolizava então o centro nervoso da cidade no início do século passado.

A minha maior vingança é que o Mc Donald`s, que também nasceu na Califórnia, berço do Vale do Silício, mesmo sendo a maior rede de fast food do mundo, presente em 120 países e com mais de mil lanchonetes no Brasil, não conseguiu superar em São Paulo a nossa pizza, que nasceu no Brás.

Depois da Santa Genoveva e da Castelões, mais de 3.000 pizzarias estão hoje espalhadas pela cidade de São Paulo. Nelas consumimos mais de 1 milhão de suculentas pizzas por dia, consideradas as melhores do mundo, inclusive mais saborosas do que as feitas na Itália. É por estas e outras tantas razões que a gente sai do Brás, mas o Brás não sai da gente.

Do meu maior orgulho e da minha maior vingança, lembro das mais marcantes tristezas que vivi no Brás. Desobediência, notas baixas na escola ou qualquer outra molecagem, convencionalmente não aceita, eram reprimidas com castigo. Era terrível. Não sair na rua, ficar sem jogar bola, deixar de andar de bicicleta e se ausentar da convivência com primos e amigos.

Meus netos, que vivem e desfrutam das maiores e melhores tecnologias do Vale do Silício, também ficam de castigo quando cometem os mesmos ou até piores equívocos que cometi, nas décadas de 50 e 60, durante minha infância e adolescência. Mas hoje eles ficam sem o iPhone e sem a internet. Não falam com os primos e amigos através do Twitter, Orkut e Facebook. No home theater são proibidos de entrar, e o Playstation, já sabem que está trancado no armário, inacessível.

Como no Brás, parece que tudo mudou. Mas não é verdade. A censura e a advertência dos pais que conviviam com seus filhos no antigo bairro italiano, são iguais as de hoje da era digital. Os castigos também são pueris, só que agora eletrônicos. Os nossos defeitos são os mesmo de nossos filhos e netos, eles só não adquiriram ainda a nossa experiência e o nosso conhecimento. Nós falamos o que fizemos na vida e eles digitam aquilo que querem fazer.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Globo, a rainha da sucata

Estrategicamente ou não, no meio do feriado prolongado de 7 de Setembro, o jornal O Estado de S.Paulo publicou, para poucos lerem, uma entrevista de página inteira com o maior executivo de televisão da América Latina. Octávio Frioli Florisbal, diretor geral da Rede Globo de Televisão, discorreu longamente sobre os planos da emissora e a concorrência com as novas mídias. Florisbal foi enfático: “Temos um longo prazo para manter o público da TV aberta”. Enfático? Sim. Profético? Vamos ver.

Pode ser mentira, desinformação, dissimulação ou equívoco.  Ou ainda excesso de preocupação. Os dicionários estão aí para oferecer palavras e idéias de amparo a essa pretensa assertiva. A rigor, no fundo, não passa de uma firula verbal do executivo da antiga Vênus Platinada.  A realidade – essa madrasta das inverdades - talvez explique melhor a ênfase de seu prognóstico, que soa mais como uma maneira inteligente e peculiar de se esquivar de modo dissimulado de suas próprias inquietações e aflições.

Há oito dias, o IBOPE divulgou em seu Painel Nacional de Televisão (PNT) que o mês de agosto de 2010 produziu o pior resultado obtido até agora pelas TVs abertas. A Globo fechou o mês com 17,8 pontos de audiência, numa queda de 14% em relação ao ano passado. A Record e a Bandeirantes também tiveram quedas significativas e o SBT atingiu uma das médias mais baixas de sua história. Somando todas as emissoras (incluídas  RedeTV, Cultura e Gazeta), o número não ultrapassa 50 pontos.

No ano 2000, quando a internet tinha apenas cinco anos de idade no Brasil, só a Globo e o SBT, aos domingos, sem exibição do futebol, chegavam a 60 pontos de audiência. Na soma com Bandeirantes, Record, RedeTV, Cultura e Gazeta, esse índice de audiência chegava a quase 90 pontos. No último domingo, dia 5 de setembro de 2010, mesmo com transmissão de futebol, a Record venceu a Globo com média de 16 pontos contra 15. O SBT não chegou a 6. Quanto às outras emissoras, o bom senso sugere sequer revelar o dígito.

Evitar habilmente os baixíssimos índices de audiência, sem precisar eximir-se dissimuladamente, talvez funcionasse adotando o surrado argumento do feriado prolongado. Dizem os executivos que a audiência sempre cai em tais ocasiões. Mas isso seria mentir vergonhosamente. Negar o que se sabe ser verdadeiro. A curva para baixo é sólida e robusta. As novas mídias geradas, existentes e sustentadas pela internet, respondem hoje em todo o mundo e no Brasil por uma audiência muito maior do que a TV aberta.

Na mesma entrevista, Florisbal afirma que a TV convencional atinge hoje 175 milhões de brasileiros, mas com média inferior a 50% de audiência. A TV no Brasil tem mais de 60 anos de idade. A internet com apenas 15 anos no Brasil já está presente na vida de 70 milhões de usuários. A previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - indica que em 2012 o Brasil terá 100 milhões de internautas e uma população de 200 milhões de habitantes. Essa é a principal razão da perda de audiência da TV convencional.

Concordo, no entanto, com Octávio Florisbal  sobre a constatação de que “a TV aberta é mais lucrativa do que as outras mídias”, destacada em letras grifadas na entrevista. Só faltou explicar. A TV aberta recebe mais verba por causa do comodismo dos mídias, das agências de publicidade e em razão da bonificação de valores, o famoso BV (dinheiro que emissoras devolvem para as agências acima dos 20% permitidos por lei).

Discordo, totalmente, de Octávio Florisbal quando declara que a TV Globo está diversificando o seu conteúdo para outras mídias. Da internet até aviões, passando pelo iPad, iPhone, ônibus, táxis, trens e outras futuras plataformas.  A Globo não cria nada para outros meios, apenas descarrega programação convencional.  Grava toda a sua programação e depois exibe nessa nova e moderna convergência de mídias, misturando tudo de forma desordenada, embaraçadamente, num emaranhado enredo. Florisbal, você está equivocado. Cada mídia tem sua linguagem. Assim foi com a própria TV quando surgiu. O pessoal procedente do rádio, ao se confrontar com as câmeras, se dividiu em dois grupos: os que deram e os que não deram certo. Ficou quem se reciclou, buscou uma nova linguagem e um formato de programação adequado. No caso, não funciona a teoria do “tudo junto misturado”.

A disputa agora mais comum entre todos os meios convencionais de comunicação é ostentar, ao mesmo tempo, um conteúdo diferenciado e de qualidade para as outras mídias. No caso da internet, então, o conteúdo passa a ter uma importância ainda maior, em razão das particularidades que só essa nova mídia apresenta, principalmente no que diz respeito à interatividade. E, nesse caso, o conteúdo tem que ser, necessariamente, participativo. A via é de mão dupla. O público passa a ser co-gestor do processo de criação.

A maioria do público consumidor, hoje, faz parte de uma nova geração que prioritariamente só usa a internet como meio. Dificilmente manda uma carta, um fax ou um telegrama. Raramente vê televisão ou ouve rádio em aparelhos normais, quase nunca lê um jornal ou revista.

Por isso, o conteúdo e os criadores de conteúdo devem ter a multimidialidade, para atender cada veículo de comunicação e cada nova mídia dentro de suas próprias e únicas características. Não é gravando e retransmitindo conteúdo de TV convencional na internet, no Ipad, no Iphone e em outros meios que se atingirá esse público. Não adianta o embrulho e o laço serem atraentes, se o presente é de segunda mão. As empresas e seus funcionários que não se adaptarem à multimídia não terão espaço nessa nova sociedade digital, muito mais simples e democrática.

O novo profissional de comunicação tem que escrever bem, como se fosse para um grande jornal ou revista; falar de improviso como se estivesse numa cobertura ao vivo de rádio; precisa, necessariamente, se postar bem diante de uma câmera, como se fosse um âncora de rede nacional de televisão; e, obrigatoriamente, tem que dominar a internet com espírito de pesquisador e apurador. Utilizando o chat (conversa por Internet e por celular), a webcam, a voz sobre IP (computador como telefone), o MSN-messenger, o e-mail (correio eletrônico), além do Twitter, Facebook e Youtube.

 A internet que acessamos, e não a televisão que assistimos, já agrega todas as plataformas de comunicação. Num futuro ainda mais próximo anexará o que falta. A forma apregoada por Florisbal, que no passado era a principal ferramenta dos meios convencionais de comunicação, foi substituída pelo conteúdo multimídia. Ao acreditar na pregação do chefão global, as novas plataformas não passariam de receptáculos de uma TV de segunda mão. Ou, para fazer justiça ao nome de antiga novela da casa, a Globo finalmente alcançaria a glória de se tornar a Rainha da Sucata dos novos tempos midiáticos. Porém, a realidade é outra. Estamos falando de reinvenções, e não de adaptações, dos meios de comunicação do planeta.  Eis o novo lema: ver e fazer, quando, onde e como quiser.