segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Retorno do Palhaço da África

Assistindo aos jogos dessa Copa da África, principalmente os jogos do Brasil, devo admitir: pior que o desempenho da seleção canarinho, foram as observações feitas pelos locutores e comentaristas brasileiros sobre as disputas que aconteceram até hoje nos estádios africanos. Mais catastróficos ainda foram os comentários feitos por ex-jogadores de futebol brasileiros, travestidos de jornalistas em todas as redes nacionais de televisão e nos principais jornais do país, com o cérebro na ponta da chuteira.

Não quero falar das ácidas críticas que fizeram ao técnico Dunga, mas sim sobre a enxurrada de elogios, sem medida, feita à seleção argentina. Futebol arte; melhor ataque da copa; os argentinos estão jogando como os brasileiros deveriam jogar; melhor seleção sul americana; candidatíssima ao título mundial; futebol plástico e lúdico; time bem objetivo; e centenas de outros mais. Todos incoerentes, desprovidos de qualquer critério, empíricos e estapafúrdios.

Quando o Brasil perdeu para a Holanda então, no início da tarde de sexta-feira, os comentários e os elogios para os argentinos só perderam para o sorriso sarcástico do técnico da seleção da Argentina, Diego Maradona. Triste. Mas muito triste mesmo. Porque 24 horas depois - e mais dois minutos e trinta e oito segundos - da derrota do Brasil, a Alemanha fez o primeiro gol contra a Argentina e tudo mudou. A Alemanha passou a ser a melhor seleção do mundo.

Nunca fui cronista esportivo. Nos 38 anos que me dediquei ao jornalismo, sempre atuei na área política. O futebol, o maior entretenimento nacional, sempre achei desnecessário, supérfluo e sem nenhuma importância no nosso dia-a-dia. A política, não. Mesmo sendo a política brasileira, bastante supérflua, ela é tão necessária como influente nas nossas vidas. Assim, o que pude observar é que além das besteiras propagadas em rede nacional por nossos comentaristas, algumas lições ficaram desta Copa.

Vamos começar pela Alemanha. Em maio deste ano, um mês antes da copa, Boateng, jogador de Gana e irmão do Boateng lateral da seleção da Alemanha, na disputa do Campeonato inglês entre Chelsea e Portsmouth, machucou um dos líderes da seleção alemã, Ballack. O jogador ficou fora da Copa e a Alemanha teve que renovar. É, pela média de idade, a seleção com jogadores mais jovens na África e a mais nova equipe da Alemanha em Copas do mundo de todos os tempos.

Talvez esse passe a ser o caminho de 2014, para a seleção brasileira: a renovação. Sem o ecumênico Kaká, o festeiro Robinho, o lutador de jiu-jitsu Felipe Melo, o francês Michel Bastos, o chorão Júlio Cesar e a apatia de todo o time do Brasil no segundo tempo contra a Holanda. É isso. É preciso transgredir.

Outra lição é a postura dos técnicos, do Brasil e da Argentina, que necessitaram chamar mais a atenção do que todos os jogadores de suas seleções. A verdade é que o mau humor de Dunga e a arrogância de Maradona deram lugar para a sobriedade e a elegância do técnico da Holanda, Van Marwijk, e da Alemanha, Joachim Low.

Não vou perder tempo e não quero aborrecer nenhum leitor falando do Dunga, de seus erros ou dos seus acertos. Mas quero ressaltar a minha alegria em não ver Maradona ficar pelado no obelisco de Buenos Aires, construído para a comemoração do quarto centenário de fundação da cidade, na Praça da República, entre as avenidas Corrientes e Nove de Julho, no centro de Buenos Aires.

Eu já vi Maradona pelado. Maradona ficou desnudo para o mundo todo ver quando foi constatado seu doping após o jogo contra a Nigéria, na copa de 1994, nos Estados Unidos, quando o Brasil sagrou-se tetracampeão. Na época cinco substâncias proibidas foram encontradas na urina do maior craque argentino. Se isso não bastasse, eu e o mundo todo pudemos ver Maradona pelado novamente com sucessivas crises de overdoses de cocaína.

Este Maradona, o maior palhaço e fanfarrão latino americano, retorna agora para Buenos Aires embalado pelos melhores e mais afinados acordes do tango moderno e triste de Ástor Pantaleón Piazzolla, um dos maiores bandeonistas e compositores argentinos. Com certeza, o patife Maradona vai dançar este sofrido tango, com os nossos locutores, comentaristas e ex-jogadores (travestidos de jornalistas), que enalteceram as suas estripulias e pilhérias na África, como também elogiaram com excesso de afetação a sua insossa e medíocre seleção.

Um comentário:

  1. Pois é, a vida é um circo para Maradona!

    Maravilha seus textos!

    Beijos, CON

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