segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O debate da TV Bandeirantes foi secreto


A Rede Bandeirantes ficou dentro de seus patamares clássicos. Não chegou a 3 pontos de média na audiência do debate político com os presidenciáveis, duas semanas atrás. O índice baixíssimo só não esteve pior porque a TV do Morumbi foi salva por emissoras como a moribunda Cultura, que insiste em manter uma agonizante programação no ar e registrou no mesmo período menos de 1 ponto no Ibope.

Outro aspecto que contribuiu para minimizar o fracasso de público da Bandeirantes foi a internet, que fez explodir no ranking internacional do Twitter as galhofadas do veterano candidato Plínio de Arruda Sampaio contra seus concorrentes.

Abrir os principais jornais, no dia seguinte, e ler o resumo do debate foi o consolo dos Saad, família midiática que controla a Rede Bandeirantes, e de seus quase 20 vice-presidentes (aliás, número de profissionais superior ao de repórteres da emissora). Mas, com certeza, o que os animou mesmo foi acessar a internet e ver a repercussão da zombaria de Sampaio, chamando Dilma Roussef de doutora, José Serra de hipocondríaco e Marina Silva de eco-capitalista.

Como esses debates são organizados pela cúpula executiva da emissora e pelos marqueteiros dos partidos, eles pensam em tudo, menos no interesse público. Primeiro se preocupam com as regras do debate e com o material que será editado e exibido pela TV organizadora em seus noticiários, após o encontro. Depois, emissora e partidos vislumbram alcançar prestígio em função da performance dos candidatos. Sim, estava tudo certo, de acordo com o travado manual de regras anti-debate que todos trazem debaixo do braço. Porém, não contavam com a participação de Plínio Sampaio e com sua folgança, o único que teve visibilidade nesse encontro quase secreto, transmitido a portas fechadas, num circuito interno de televisão.

Não adianta justificarem a baixa audiência com a participação de um público qualificado e formador de opinião. Isso é tese de sociólogo ou de professor de jornalismo de muita teoria e pouca prática. A verdade é que para atender interesses dos candidatos e de seus partidos, marcaram a data errada para o debate.

O erro básico foi a falta de um - apenas um - jornalista na organização do debate. O encontro dos candidatos ocorreu no dia 5 de agosto. A data foi definida entre as partes com mais de dois meses de antecedência, entre final de maio e início de junho deste ano. Em novembro de 2009, no entanto, oito meses antes, executivos de televisão e dirigentes esportivos definiram a tabela dos jogos da Taça Libertadores da América para 2010, em Assunção, no Paraguai. E foi fixada para o mesmo dia 5 de agosto – o dia do debate - a partida de semifinal do torneio.

O que aconteceu com o presidente e os 20 vices no Morumbi? Um apagão de memória? A Bandeirantes, que sempre abusou do slogan “a emissora dos esportes”, talvez não tenha recebido a tabela da Libertadores. Ou, na confusão com tanta gente se acotovelando num mesmo andar, deixou o papel ir embora pelo ralo. Não consultou também nenhum de seus profissionais do setor de esportes antes de marcar o debate. Claro: tudo isso é impossível de acontecer numa emissora profissional. Mas na Bandeirantes acontece. O pior é que a semifinal do campeonato foi entre dois clubes brasileiros (São Paulo e Internacional) no Morumbi, atravancando até mesmo o trânsito de presidenciáveis e seus “aspones” a caminho dos estúdios da emissora.

Nada explica a pisada de bola. A ignorância da Bandeirantes só pode ser justificada pela sua arrogância. Tentar manter, a qualquer custo, o título de primeira emissora a iniciar os debates televisivos, além de insolente e pretensioso, é um pífio rótulo. Bastaram 3 pontos de Ibope para transformar o ineditismo em vexame. Na linguagem jornalística, a ânsia do “furo” virou uma humilhante “barriga”. Houve apenas uma vantagem para a Bandeirantes: ninguém viu.

O erro não ocorreu em novembro de 2009 e nem pode ser creditado aos velhinhos dirigentes da Confederação Sul-Americana de Futebol. Veio, claro, do amontoado de executivos que se aglomera na sede da emissora na Rua Radiantes, no bairro do Morumbi, a poucos metros do estádio do São Paulo, onde ocorreu o jogo do dia 5 de agosto. Desde a reunião de 20 de maio deste ano, a numerosa cúpula da Bandeirantes e os marqueteiros políticos já sabiam: a semifinal do torneio sul-americano seria no dia 5 de agosto, ao lado da TV Bandeirantes.

O Ibope do debate político deve ter incomodado os candidatos. Se prepararam por mais de uma semana, enfrentaram sabatinas das equipes e memorizaram números gigantescos. As mulheres, além do cursinho rápido, convocaram os melhores cabeleireiros de plantão. E para nada. A audiência ficou no mesmo nível de um dos ícones da emissora: o “Busão do Brasil”. O resultado certamente comprova a tese de que a ignorância só perde para a prepotência. Deu nisso: dia 5 de agosto, a Rede Globo marcou 33 pontos de audiência na transmissão de São Paulo x Internacional, contra menos de 3 pontos da Bandeirantes, com a exibição do debate político em sua rede de televisão.

Ainda que os Saad e seu batalhão de executivos tenham buscado ilusório consolo no uso correto que Plínio Sampaio fez do verbo galhofar, o fenômeno está restrito a internet. Na TV, nada ainda começou. A batalha eleitoral de verdade tem início nesta terça-feira, dia 17, com o horário político gratuito. Agora, sim: com certeza, os candidatos estarão muito mais expostos do que no encontro secreto da Bandeirantes.

2 comentários:

  1. Amigo Luchetti,
    Será que e o candidato Tiririca vai explicar o que faz um deputado federal?
    Abração e parabéns pelo Blog,
    Roberto Ferreira

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  2. O espaço dos debates políticos era para ser um símbolo de democracia, pois poucos são os países que permitem uma oposição atuante e o debate direto e franco sobre propostas e projetos, sejam estes futuros ou já concretizados, mas infelizmente sabemos que é um jogo, um truque ilusionista de cartas marcadas.
    Os discursos são os mesmos, a falsa preocupação com o povo é notória, falam de problemas que já “combateram” e nenhuma solução, de fato, foi apresentada.
    Algumas pessoas usam a palavra suja para falar da política, mas pelo que vejo não é bem assim, na verdade nossa política é limpa, extremamente limpa, higienizada e maquiada para enganar, ou continuar enganando grande parte dos eleitores, que infelizmente ainda caem neste jogo de cena e acreditam nesta camuflada democracia.

    Abraços

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