Com o debate presidencial de ontem na TV Globo, encerrou-se esse modelo arcaico, desinteressante e sem nenhuma criatividade adotado pelas nossas grandes redes de televisão. Propondo discussões entre os dois candidatos que terão a responsabilidade e dirigir o país nos próximos quatro anos, os dirigentes de nossas emissoras se comprometeram com regras impostas e definidas pelos marqueteiros dos candidatos, sem nunca vislumbrarem o interesse público.
O apego exclusivo ao que é mais vantajoso está claro. A TV Globo quer audiência e o respaldo de ter participado para não pagar caro, como já pagou, pela omissão que teve durante o movimento das Diretas Já. Isso sem contar com a patacoada que quer esquecer da edição do debate de Lula versus Collor, e do escândalo e da impostura com a manipulação do resultado das pesquisas contra Leonel Brizola.
A Record quer sair dos cultos religiosos e das cobranças de dízimos para se apresentar, temporariamente, como uma rede de televisão. Tenta passar para o telespectador que produz um jornalismo atual e descompromissado e não o de uma igreja eletrônica arrecadadora de fundos, que na realidade é.
O SBT que nem participou do segundo turno também tem seu interesse vivo nesse episódio – não se comprometer com nada – com a orientação de um octogenário, que já foi o maior comunicador da América Latina e um dos maiores do mundo, a emissora de Silvio Santos acredita que não participar é sempre menos perigoso do que empenhar a sua reputação de omisso.
No caso da Rede TV e da TV Bandeirantes, acredito que as duas merecem um capítulo a parte. Além dos mesmos defeitos das outras três, elas apresentam agravantes que merecem ser ressaltados e que serão esmiuçados. Mas só para registro, o resultado dos debates não alterou em quase nada a realidade: Globo em primeiro lugar, Record em segundo, SBT participando ou não em terceiro, Rede TV em quarto e Bandeirantes em quinto lugar de audiência.
Reconheço apenas uma qualidade: A Rede TV foi a mais esperta de todas e a que mais faturou comercial e politicamente com os debates, principalmente em relação a Bandeirantes.
A Rede TV com apenas 10 anos de existência e com todos os problemas que enfrenta, principalmente decorrentes do fim do 0900, única receita financeira de seus acionistas que poderia minimizar os déficits orçamentários da empresa, acabou dando uma lição de profissionalismo à Rede Bandeirantes de Televisão. Não que isso mereça destaque até porque a Bandeirantes é tão incompetente que vencê-la, em qualquer situação, não é mérito para ninguém e sim obrigação.
Os profissionais da Rede TV, liderados pelos dois maiores dirigentes da emissora Amilcare Dallevo e Marcelo Carvalho, que se caracterizaram na televisão brasileira por se casarem com suas principais apresentadoras, acabaram marcando o debate político do segundo turno para domingo, 17 de outubro. Data muito mais suscetível de satisfazer ao telespectador do que a marcada pela Bandeirates, no dia 10 de outubro, no meio de um dos maiores feriados prolongados do ano.
Resultado a Bandeirantes conseguiu ficar em quinto lugar na disputa pela audiência, perdendo para Globo, SBT, Record e a própria Rede TV. O debate da Band foi mais lido do que assistido. E não foi a primeira vez. O dia 5 de agosto foi reservado pela Bandeirantes para realizar o debate do primeiro turno. No mesmo dia e horário o São Paulo Futebol Clube disputava um jogo decisivo para final da Taça Libertadores da América, contra o Internacional de Porto Alegre, no Morumbi, a poucos metros da sede da emissora.
A TV Globo que transmitiu o jogo marcou 33 pontos de audiência, contra apenas 3 do debate político da Band que novamente ficou em quinto lugar na preferência dos telespectadores. A Bandeirantes quer, por qualquer custo, ter o pífio rótulo de ser a primeira emissora a realizar debates políticos. Com essa máxima, não importa nenhuma estratégia de programação para garantir, simultaneamente, a atração e a audiência, simples e básico conceito de qualquer emissora.
Deste modo, a Bandeirantes – a primeira entre as últimas – conseguiu marcar dois recordes simultaneamente: realizou, novamente, o primeiro debate das eleições presidenciais, agora no segundo turno, e também o segundo debate, novamente com o menor índice de audiência.
Nos dois casos a Bandeirantes errou por pura falta de competência. A tabela do jogo da Libertadores havia sido divulgada em novembro de 2009 e confirmada em maio deste ano pela Confederação Sul-Americana de Futebol, três meses antes do primeiro debate.
Quando ao segundo encontro presidencial realizado no dia 10 de outubro, sem comentários. A inocência que perdoe a Band e a Padroeira que a tenha em suas mãos, mas é muita incompetência marcar um debate no dia 10 de outubro, no meio do feriado prolongado em comemoração aos dias da criança e de Nossa Senhora Aparecida.
Sem nenhuma tradição no jornalismo brasileiro – pelo curto tempo de existência e também pelo enorme desinteresse neste tema – a Rede TV conseguiu muito mais audiência que a Bandeirantes transmitindo o debate no dia 17 de outubro.
A Rede TV alterou a sua grade de domingo e programou o debate, estrategicamente, entre as duas partes do Pânico na TV – um programa trash, de humor duvidoso, mas líder de audiência na emissora. Além de atrair mais telespectadores do que a Band conseguiu mais repercussão também nos sites no próprio domingo e nos jornais na segunda-feira. A Bandeirantes ficou em quinto lugar novamente.