A TV Globo publicou, no início deste mês, um anúncio de página inteira nos grandes jornais do país para alardear que foi a líder de audiência em todos os debates políticos realizados no primeiro turnos das eleições presidenciais de 2010.
A publicidade da emissora carioca até que se justificaria pela capacidade de seus profissionais, em função do profundo conhecimento que possuem. Mas, na verdade, a propaganda é, antes de tudo, ardilosa e astuciosa.
Ao tentar enaltecer sua capacidade de atingir 24 pontos de audiência com o debate político realizado na sexta-feira, dia 1º de outubro, dois dias antes da eleição, a TV Globo quer realmente apontar o dedo para a incompetência de seus concorrentes, especialmente da TV Bandeirantes.
A Globo não ganhou nada. Foram seus concorrentes que perderam. O debate da Bandeirantes, que no dia 5 de agosto alcançou menos de 3 pontos de audiência e que eu chamei de debate secreto, foi resultado de dois fatores preponderantes para o fracasso da transmissão da emissora paulista contra o pretenso sucesso da emissora carioca.
O primeiro aspecto foi, sem dúvida alguma, a ausência de conhecimento e a inabilidade dos profissionais do Morumbi. O segundo, e talvez o mais grave de todos, é a arrogância e prepotência de seu presidente, João Carlos Saad, vulgo Johnny, que deseja sempre ser o primeiro, mesmo que seja o último. Foi, enfim, uma derrota retumbante, estrondosa.
A Bandeirantes quer, por qualquer custo, ter o pífio rótulo de ser a primeira emissora a realizar debates políticos. Com essa máxima, realizou o primeiro debate do início das eleições presidenciais no dia 5 de agosto de 2010, quando o São Paulo disputava, no mesmo horário, uma vaga para a final da Taça Libertadores, contra o Inter/RS, no Morumbi, a poucos metros da Rua Radiantes, sede da Bandeirantes.
A TV Globo transmitiu o jogo ao vivo, registrando 33 pontos de audiência. A TV Bandeirantes obteve menos de 3 pontos com o bate-boca político. Detalhe: o jogo estava definido para essa data três meses antes de a Bandeirantes escolher o mesmo dia para realizar o seu fracassado debate. O “mundo” ficou sabendo do jogo, menos a emissora do Morumbi – sempre a primeira entre as últimas.
Agora, no segundo turno das eleições, a TV Bandeirantes marca o primeiro debate para do dia 10 de outubro, domingo, no meio de um dos maiores feriados do ano. Na sexta-feira, a cidade de São Paulo registrou um novo recorde de congestionamento no ano: mais de 220 km às 19 horas. Duas horas antes, a cidade já estava completamente parada, com mais de 120 km de trânsito travado.
Os aeroportos estavam lotados, com mais de 40 vôos atrasados. A previsão mais otimista, na sexta-feira, era de que quase 2 milhões de veículos saíram da cidade. Cerca de 700 mil passageiros utilizaram os terminais rodoviários do Tiete, Barra Funda e Jabaquara – movimento mais de 10 vezes superior ao normal – em direção ao litoral, interior do Estado ou outras localidades durante o feriado prolongado.
E ainda mais: os torcedores também viajaram. A média de público dos jogos do final de semana foi uma das piores do Brasileirão: 13 mil pessoas. Com o mesmo método particular de realizar besteira a Bandeirantes perdeu audiência para o futebol da Globo em agosto, e agora, mantendo esse estilo pessoal de estupidez perdeu para o feriado em comemoração aos dias de Nossa Senhora Aparecida e da Criança.
A inocência que me perdoe e a Padroeira que me tenha em suas mãos, mas é muita incompetência marcar um debate no dia 10, no meio do feriadão. Haja ausência de culpabilidade e orações para superar tanta imbecilidade. Não ia dar outra coisa nem graças a novo milagre de Aparecida (mesmo porque a Santa tem outras coisas a fazer do que ficar ajudando quem não se ajuda).
Deste modo, a Bandeirantes – a primeira entre as últimas - conseguiu marcar dois recordes simultaneamente: realizou, novamente, o primeiro debate das eleições presidenciais, agora no segundo turno, e também o segundo debate, novamente com o menor índice de audiência. E, claro, ainda entrou para o livro Guinness dos Recordes com a façanha inédita de ter realizado dois debates secretos. Ficou em 5º lugar perdendo em audiência para Globo, Record, SBT e Rede TV. O debate da Bandeirantes foi lido no dia seguinte e pouco assistido no domingo.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou no dia 1º de julho, durante sessão extraordinária, o calendário eleitoral das eleições de 2010. O primeiro turno ficou para o dia 3 de outubro, primeiro domingo do mês, e o segundo turno, para o dia 31, último domingo de outubro. Mais uma vez, com três meses de antecedência, a Bandeirantes tinha conhecimento das datas e errou de novo. Marcou o debate no meio de um dos maiores feriados prolongados do ano. Segundo o jornal Folha de São Paulo, nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistiu o debate da Bandeirantes.
A TV Globo deveria ter vergonha de publicar anúncio apregoando vitória sobre concorrentes tão inexpressivos e tão incompetentes. Com certeza, a Globo marcará o seu próximo debate para o dia 29 de outubro, sexta-feira, dois dias antes da votação do segundo turno. E, então, João Carlos Saad, alcunhado Johnny, vai mostrar que entende de TV: pegará o controle remoto e sintonizará certinho na concorrente para acompanhar o embate Serra x Dilma com o mesmo interesse dos eleitores que no domingo, 31 de outubro, definirão eleitoralmente quem substituirá Lula.
Mas a Globo que se cuide. A cartolagem eletrônica do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, ainda não sabe da novidade que vem por aí. A Bandeirantes já prepara uma grande surpresa para o final de 2010. Irá anunciar, depois das eleições, seu próximo programa especial: no dia 24 de dezembro, às 24 horas, durante a ceia de Natal, a Bandeirantes transmitirá entrevista exclusiva com o candidato derrotado à Presidência, para ele tentar explicar porque não chegou lá.
Não percam: será mais um campeão de audiência da rede de TV do Morumbi – a primeira entre as últimas. Não é à toa que o novo seriado da emissora se chama “Tô Frito”, minissérie que ninguém tomou conhecimento e que acabou segunda-feira, dia 11, véspera do feriadão.
Quer mais. O “Tô Frito” era transmitido as segundas, a partir da 00:15 ou aos 15 minutos da terça, com o patrocínio de uma grande multinacional de alimentos. Não vou divulgar o nome da empresa, pois nem a Bandeirantes deu visibilidade à indústria patrocinadora, mas o presidente da multinacional, coincidentemente ou não, tem sobrenome assemelhado a de um apresentador de programa humorístico de outra rede de televisão.